Eu teço desde os 8 anos.
Primeiro costura. Minha avó me ensinou a fazer bonecas (bruxinhas) e as roupinhas para elas.
Depois veio a tapeçaria com a minha mãe. Seguiram o crochê, bordado, tricô, tecelagem, macramé, frivolité…. E essas técnicas, dispositivos, continuam chegando. E as acolho com avidez. Sou ávida por aprender novas expressões de fios. Qual nova “palavra” o discurso dos fios quer me contar. Para que eu compreenda melhor o que em mim tece enquanto teço.
“Lembremos da aranha que puxa o fio do próprio corpo e nos revela que tecer é criar a partir da própria substância.” Liz Haddad
De certa forma, a arte de contar e a arte de tecer se entrelaçam no tempo. Enquanto as mãos estão ocupadas, abre-se espaço na mente: para silenciar, para fluir, imaginar, elaborar, contar. Atividade ancestral.
Ir ao armarinho, assim como ir numa livraria, tem a potência de quem está diante do contador de histórias, prestes a ouvir um conto. Mundos estão prestes a se descortinar, conflitos, romances, magia. O armarinho carrega consigo os fios que tecerão uma narrativa que acontece na vida-viva.
Krenak fala sobre como podemos adiar o fim do mundo, já que mundos acabam o tempo todo. Já que a vida é absurda, uma queda no abismo, segundo Nietzsche. Então como suspender a queda? Como adiar o fim do mundo?
Talvez tecendo outra peça e contando mais uma história.
costurandeira
costuro como
quem anda
ando como
quem cura
curo como
quem costura.
Bianca Rufino (@biasabiar)